Na avaliação inicial de pacientes portadores de obesidade, devemos sempre nos
questionar se existem possíveis causas que justifiquem o ganho de peso.
O uso de algumas medicações, como corticoides, anticonvulsivantes, antidepressivos e
antipsicóticos, pode contribuir para o aumento de peso.
A presença de disfunções hormonais, como hipotireoidismo, também deve ser
investigada. Em alguns casos, a depender do quadro clínico do paciente, outras doenças
como a síndrome de Cushing, doença bem menos comum, também pode ser
investigada.
O endocrinologista é o médico especialista capaz de fazer uma adequada avaliação
hormonal, assim como investigar alterações metabólicas. Lembrando que o
acompanhamento especializado adequado é fundamental para o sucesso de qualquer
tratamento!
Várias evidências conectam o estresse à obesidade, condições altamente prevalentes nos dias atuais. Para algumas pessoas, particularmente aquelas com excesso de peso, o estresse costuma contribuir para o aumento da ingesta alimentar, principalmente daqueles conhecidos alimentos “mais palatáveis”, que são mais calóricos, ricos em açúcares e gordura.
Além disso, o estresse contribui para a redução da prática de exercício físico, além de interferir negativamente na qualidade do sono. Portanto, uma vida estressante pode ser sim um gatilho para o ganho de peso!
A obesidade representa um dos grandes problemas mundiais de saúde pública.
Apesar
da mesma ter múltiplas causas, diversos fatores ambientais, como o consumo excessivo
de alimentos industrializados, mais calóricos e com maior teor de gorduras, associados à
redução da atividade física contribuem para o aumento da sua prevalência.
A obesidade sarcopênica ocorre quando observamos redução da massa muscular,
associada à perda de função muscular em um paciente com obesidade. Essa condição,
cada vez mais descrita, pode associar-se a prejuízos à qualidade de vida e ao aumento da
mortalidade.
Muitas vezes, trata-se de uma doença silenciosa, mas em alguns casos queixas como
fadiga e fraqueza podem estar presentes.
A obesidade é uma doença crônica que pode vir associada a vários outros problemas de
saúde. Algumas condições, apesar de algumas vezes não serem lembradas, podem vir
associadas à obesidade:
– Insuficiência cardíaca
– Litíase biliar (pedra na vesícula”)
– Doenças articulares, como artrose e gota
– Câncer de mama
– Câncer de próstata
– Câncer de endométrio
Importante ainda não esquecer que o excesso de peso pode contribuir para a redução da
capacidade funcional dos indivíduos
Perdas de peso, mesmo que modestas, estão associadas a inúmeros benefícios à saúde,
além de melhora da qualidade de vida.
Perdas de 3% ou menos já trazem benefícios para a fertilidade, níveis de glicose (açúcar
no sangue) e, segundo alguns autores, estão associadas a uma menor probabilidade de
complicações associadas a doenças infecciosas.
Quando as perdas são acima de 5%, há significativos efeitos em alterações metabólicas,
depressão, dores articulares e também melhora na função sexual.
A perda de 7%, por sua vez, associa-se a um menor risco de diabetes mellitus e àquelas
maiores que 10%, têm importante efeito na esteatohepatite (inflamação do fígado
secundária ao depósito de gordura).
Não podemos esquecer ainda que a perda de peso reduz o risco de ocorrência de eventos
cardiovasculares!
Inúmeros e complexos são os fatores relacionados com a associação entre a obesidade e
o câncer de mama. Estudos têm demonstrado que o excesso de tecido adiposo
(gorduroso) gera um ambiente de inflamação crônica que contribui para o crescimento
de células tumorais.
Além disso, a obesidade leva ao aumento da secreção do hormônio insulina, o que
também contribui para a proliferação celular, aumentando a chance de células de câncer
surgirem e se multiplicarem. O excesso de gordura aumenta ainda os níveis de
hormônios sexuais, o que também facilita essa proliferação.
Portanto, tratar a obesidade também ajuda a prevenir o câncer de mama!!
Várias evidências comprovam que o excesso de peso pré-gestacional está fortemente
relacionado a maiores taxas de complicações durante a gravidez.
Doenças como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia são mais prevalentes em mulheres
portadoras de obesidade. Além disso, essas mulheres apresentam ainda risco aumentado
de parto prematuro e trabalho de parto prolongado.
A necessidade de parto cesáreo é maior nesse grupo de gestantes e mais propenso a
complicações, como infecção da ferida operatória e eventos trombóticos.
Lembrando
ainda que, no pós-parto, o processo de amamentação pode ser também mais difícil!
Diante de todas as possíveis complicações e, sendo a obesidade materna um dos fatores
de risco materno-fetais preveníveis, a perda de peso, quando necessária,
deve ser sempre estimulada em todas as mulheres em idade fértil!
A maior parte dos pacientes ainda acredita que normalizar o índice de massa corpórea
(IMC) é o principal objetivo do tratamento da obesidade, como se os benefícios clínicos
obtidos com a perda de peso só fossem atingidos com essa normalização.
Vale ressaltar, entretanto, que perdas de peso consideradas muitas vezes modestas,
como aquelas de cerca de 5%, já estão relacionadas a diversas vantagens para a saúde e
melhora da qualidade de vida!
O tratamento da obesidade tem como principais objetivos reduzir as comorbidades
associadas ao excesso de peso e melhorar a qualidade de vida. A perda de peso associa-
se à redução do risco de desenvolvimento de diabetes, melhora os níveis de colesterol e
de pressão arterial, além de contribuir para um melhor controle dos níveis glicêmicos
em pacientes portadores de diabetes.
Além disso, o tratamento melhora as dores articulares, os sintomas depressivos, a apnéia
obstrutiva do sono e é capaz de reduzir a gordura do fígado.
Atualmente, os medicamentos aprovados no Brasil para o tratamento da obesidade são:
• Sibutramina
• Liraglutida
• Orlistate
• Bupropiona associada à naltrexona
• Semaglutida
Lembrando que o tratamento deve ser sempre individualizado levando-se em
consideração os aspectos comportamentais, padrão alimentar, assim como a presença de
comorbidades de cada paciente.
Classicamente, o tratamento farmacológico para obesidade está indicado nas seguintes
situações:
•Indice de massa corpórea (IMC) ≥ 30kg/m 2 ;
• IMC ≥ 25kg ou ≥ 27kg/m 2 na presença de comorbidades (dependendo do
medicamento);
• IMC normal associado a aumento da circunferência abdominal (obesidade
visceral), na presença de comorbidades;
• Falha em perder peso com o tratamento não farmacológico.
Inicialmente, é importante lembrar que NENHUMA medicação ou cirurgia poderão
garantir tratamento definitivo e “cura” para a obesidade! A resposta para o
questionamento é: depende!
Em alguns casos, a medicação precisará ser mantida a longo prazo e, em outros, o
tratamento de manutenção do peso perdido poderá ser garantido com estratégias de
modificação de estilo de vida, sem necessitar do uso de medicação.
Desse modo, não existe prazo e fórmula mágica, e ressalto ainda a necessidade de
individualização do tratamento!
O acompanhamento médico deverá ser mantido a longo
prazo, independente da estratégia terapêutica escolhida!
Essa medicação consiste numa combinação de duas substâncias já conhecidas: a
bupropiona e a naltrexona.
Trata-se de uma medicação já disponível na Europa e nos Estados Unidos. Ela atua no
sistema de recompensa do cérebro e tem efeito reduzindo o apetite.
Funciona melhor naqueles pacientes com compulsão alimentar, fome emocional e ex-
tabagistas que aumentaram peso após pararem de fumar.
Sabemos que a obesidade é uma doença crônica e recidivante. Durante o processo de
perda de peso, há naturalmente uma tendência do corpo de recuperar o peso perdido,
uma vez que há uma redução do gasto energético e aumento da fome.
Desse modo, são necessários cuidados contínuos para evitar o reganho de peso.
Seguem aqui algumas recomendações que podem ajudar nesse processo de manutenção
do peso perdido:
1. Pratique atividade física regularmente;
2. Siga uma dieta com baixa caloria, rica em fibras;
3. Procure ingerir uma quantidade adequada de proteínas:
O consumo adequado de
proteínas reduz o apetite e promove saciedade;
4. Monitore o peso regularmente, pelo menos uma vez por semana. Essa é uma
ferramenta útil para o controle do peso, pois permite perceber a ocorrência de
pequenas oscilações que funcionarão como “sinal de alarme”;
5. Continue o acompanhamento regular com seu médico e nutricionista;
6. Controle o estresse;
7. Durma bem;
8. Não abuse de alimentos e bebidas alcoólicas nos finais de semana e feriados,
caso contrário, todo o controle alimentar da semana pode ir por “água abaixo”;
9. Estipule com seu médico um peso de alerta;
10. Hidrate-se adequadamente.
Já sabemos que o consumo exagerado de álcool pode trazer inúmeros prejuízos à saúde.
Mas será que o consumo moderado de álcool pode prejudicar o seu processo de
emagrecimento? E a resposta é: sim!
Apesar do álcool não ser um nutriente, ele pode ser muito calórico e seu consumo,
mesmo quando moderado, poderá impactar negativamente nos seus resultados. Além
disso, é importante lembrar que muitas vezes esse consumo vem acompanhado pela
ingesta de alimentos calóricos.
Portanto, o ideal é evitar ou tentar consumir esporadicamente em pequenas quantidades!
O emprego de terapias heterodoxas para o tratamento da obesidade tem sido cada vez
mais frequente. Entretanto, é importante ressaltar que essas terapias não são baseadas
em evidências científicas, ou seja, não tiveram sua eficácia e perfil de segurança
adequadamente avaliados.
Na prática clínica, ainda é bastante comum o uso de “fórmulas” que prometem
emagrecimento rápido e nada mais são do que uma mistura perigosa de substâncias,
incluindo diuréticos, laxantes, ansiolíticos, inibidores de apetite, hormônios,
polivitamínicos e até fitoterápicos!
Mas, afinal, qual o risco de usar essas formulações?
Seu uso pode associar-se a vários efeitos adversos, como elevação da pressão arterial,
arritmias, transtornos psiquiátricos, alterações renais ou hepáticas.
Uma das maiores causas de hepatite aguda, algumas vezes grave e de evolução
fulminante, necessitando até de transplante de fígado, são secundárias ao uso dessas
substâncias!